segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O que é "Amor Platônico"?

Tanto em espanhol como em português, a palavra "amor" foi mantida tal como em sua forma original no antigo latim, assim como foram mantidos seus vários significados, mas penso que na verdade todos convergem para um só significado (isto é explicado no decorrer do texto). O mesmo acontece em relação às suas variáveis em outros idiomas - como "love" em inglês. Entre os muitos significados a ela relacionados, encontram-se "paixão", "compaixão", "misericórdia", etc.
Considero que estes significados se direcionam para um significado único porque todos se referem a uma relação afetiva, um vínculo emocional entre duas ou mais pessoas, entre pessoas e animais de estimação, ou mesmo de uma pessoa em relação a um objeto - uma camisa, uma blusa, uma fotografia, etc. Este apego a objetos é considerado por muitas pessoas como um exagero, mas na verdade toda pessoa o tem, embora muitas não o percebam ou não queiram admitir que tenham tal sentimento. Na verdade, não se trata do amor ao objeto em si, mas a algo ou à pessoa que o objeto faz lembrar: a camisa do marido que morreu ou do filho que está morando longe, a caneta ou qualquer outro objeto que alguém amado deu como presente, a fotografia de alguém que morreu ou está distante, etc. 
O amor pode se manifestar de forma física, religiosa (por exemplo, o amor a Deus) ou platônica, mas seja como for, é sempre resultante de uma relação muito íntima entre o caráter da pessoa que o sente e as razões que a levam a querer bem e a agir em prol da pessoa, do animal ou do objeto amados. Por ser assim tão diverso, o amor tem muitas definições, sendo difícil - se não for impossível - estabelecer uma como a única correta. A definição tende a ser fortemente um ponto de vista pessoal, resultante da experiência pessoal de quem ama. Mesmo o amor platônico, geralmente considerado como o "amor ideal", sem interesses pessoais, sem cobranças, tem definições pessoais variadas. Muitas pessoas garantem que o sentem enquanto outras dizem que ele não existe. Além disto , embora seja chamado de "platônico" por ser suposta mente baseado em estudos e pensamentos de Platão, muitos posicionamentos de filósofos da atualidade diferem do original do filósofo que viveu na Grécia por volta do século IV a.C. Não poderia ocorrer de forma diferente: seria impossível não haver mudanças de interpretação ao longo de mais de 2.400 anos. 
Platão dizia que o amor verdadeiro considerava o mundo material como algo menos importante do que a "verdade essencial". Mas nem mesmo o próprio Platão tinha uma definição exata para essa "verdade essencial". Ele mesmo a considerava como algo meramente interpretativo: cada pessoa vê como sua "verdade essencial" o que resulta ou resultou do amor que ela sente ou sentiu, vivencia ou vivenciou. Portanto, a interpretação atualmente mais comum do amor platônico, sem cobranças, sem necessidade de práticas sexuais, pode ser um equívoco. Platão não desvinculava o amor da paixão. Para ele, o amor não poderia existir se houvesse paixão, e o sexo e muitas outras coisas materiais seriam essenciais para mantê-lo. Portanto, a meu ver, eis aí a "verdade essencial" à qual o filósofo se referia.
Embora todos os estudos antigos e atuais tendam a comprovar que a definição do amor é uma questão de interpretação pessoal, na sociedade em que vivemos, as variações do amor  - social, paternal, maternal, fraternal, entre pessoas de sexos diferentes ou mesmo o amor homossexual - estão submetidas ao "amor permitido". Não me refiro, aqui, às permissões dadas segundo as regras estabelecidas pela sociedade, mas à permissão dada pela própria pessoa que ama. Neste caso, considero que a permissão se baseia numa reciprocidade que facilite o início e a ampliação das relações afetivas. Assim, parece-me que embora haja regras estabelecidas pela sociedade, a permissão que a pessoa que ama dá a si mesma: você me ama porque você vê em mim um valor que lhe atrai, mas também porque você se permitiu entregar-se a esta atração. Esta é uma liberdade que a pessoa que ama dá a si mesma quando o sentimento preenche a alma e o corpo, seja por um curto ou por um longo tempo. Se for por um período curto, ficam como marcas profundas as lembranças que permanecem mesmo muito tempo depois do fim de uma relação. Neste caso, refiro-me ao que dizia Vinícius de Moraes: "que seja eterno enquanto dure". 


Fontes de pesquisa: 

  1. "Platão" - coleção "Os Pensadores" - editora Nova Fronteira
  2. "Platão" - Enciclopédia Conhecer - Vol. II - editora Abril